A tragédia que assola o Rio Grande do Sul exige esforços vindos de todos os cantos do país e até do exterior. Toda ajuda é bem-vinda e necessária. São várias as frentes de atuação que precisam de voluntários para dar conta do trabalho que é imenso e exaustivo. O professor do curso de Enfermagem da PUC Goiás, Silvio Queiroz, que é membro da Equipe de Resposta Rápida do Conselho Federal de Enfermagem, é um deles. Desde o dia 3 de maio, ele está no estado gaúcho, junto com outro profissional de São Paulo, fazendo o mapeamento dos profissionais de enfermagem atingidos pela tragédia. O objetivo, ao identificar os colegas atingidos, além de acolhê-los e assisti-los, é garantir que voltem ao trabalho para evitar uma desassistência nas unidades de saúde.
Ao se voluntariar, Silvio coloca em risco sua própria vida. Não existe hora para dormir ou para acordar, nem garantia da próxima refeição. Na última quarta-feira, ele precisou deixar o hotel onde estava por conta do agravamento da situação no local, que ficou sem água e sem energia. Depois de procurar sem sucesso por outro local para hospedagem, ele recebeu abrigo em um convento. O retorno para Goiânia deve começar no sábado, mas não será como ele chegou, porque o aeroporto de Porto Alegre está interditado até 30 de maio.
A ajuda ao próximo sempre fez parte da vida de Silvio. Aos 18 anos ingressou nos Bombeiros Militar, onde permaneceu por mais de 7 anos. Quando deu baixa, continuou atuando no serviço de atendimento de emergências. “Sempre trabalhei em situações de ajuda, de auxílio ao próximo. No dia a dia, nós cuidamos de muitas pessoas que são desconhecidas, que estão em sofrimento e sinto a necessidade de levar esse auxílio. Se de 300 mil pessoas eu conseguir ajudar uma pessoa, uma família, eu sei que eu fiz a diferença na vida delas e que vou fazer o mundo delas melhor.
O hoje professor da PUC se lembra de quando era apenas um estudante na instituição e ingressou no voluntariado. “A PUC foi muito importante no meu processo de formação como voluntário. Aprendi a ser voluntário na minha graduação na PUC. Quando a gente fala que a PUC cuida da vida e forma o ser humano, não só o tecnicista, é que ela realmente se preocupa com os outros”. Quando estudante, Silvio fez parte do projeto Universidade Solidária, que era coordenado por dona Ruth Cardoso. Desde então, nunca mais parou.
Para ele, o maior reconhecimento que pode receber é o olhar de gratidão, o sorriso de quem recebeu a ajuda. “Nós acabamos de visitar uma técnica que está com o esposo e dois filhos em uma casa cedida, porque perdeu tudo. Deixamos cestas básicas e ela nos deu um abraço verdadeiro. Quis contar sua história, e nós ouvimos. É esse abraço, esse olhar de gratidão por você ter ido lá e se preocupar, esse sorriso e essa possibilidade de aumentar ou dar a esperança para a pessoa e fazer, pelo menos aquele momento ser melhor na vida daquela pessoa, que vai ter que recomeçar, é motivo de muita alegria poder fazer isso.”
Silvio está em Porto Alegre, mas faz deslocamentos até Canoas, um dos municípios mais afetados pelas chuvas, e para cidades vizinhas. Até ontem (8 de maio), mais de 1,1 mil já tinham sido identificados em abrigos, a maioria deles em Canoas. “Estamos fazendo o acolhimento desses profissionais, verificando suas necessidades e repassando orientações”, explica. E acrescenta: “A gente acredita que quanto mais rápido esse profissional de enfermagem for assistido, evita uma desassistência na área da saúde, que é o que está acontecendo”, relata.
A situação, diz, é bastante caótica. “Estão montando hospitais de campanha, porque muitas unidades de saúde foram 100% atingidas. No sábado passado, nós fomos para Canoas e atuamos no abrigo, que tem mais de 4 mil pessoas. Lá nós fizemos atendimentos, principalmente de pessoas que estavam em uma ala de cadeirantes e pacientes crônicos. Depois ficamos no pronto atendimento improvisado. As pessoas estavam chegando, muitos com um quadro de hipotermia, frios, quase colapsados”, conta
Luto
Silvio frisa que não é possível comparar uma tragédia com a outra, mas diz que nunca viu uma com a extensão da que assola o Rio Grande do Sul. “Aqui é um luto geral. A gente encontra as pessoas, às vezes andando na rua porque não tem pra onde ir”, descreve. E esta não é a primeira vez que o professor é voluntário numa situação extrema de calamidade provocada por um desastre natural. Em 2008, ele atuou em Santa Catarina. “Nós (ele foi acompanhado de alunos da Liga de Emergência do curso de Enfermagem) ficamos lá por 10 dias, distribuindo água, leite, cestas básicas, montando kits. Eu comecei a atuar nessa época e depois disso já estive no Acre, Bahia, Alagoas, Rio de Janeiro”, enumera. A última tragédia em que atuou foi há dois anos, em Petrópolis (RJ), quando 230 pessoas morreram. No Rio Grande do Sul, mais de 110 óbitos já foram registrados.
Ajuda humanitária
Silvio conta que firmaram uma parceria com a Cruz Vermelha, que está ajudando na busca e disponibilizando cestas básicas para os profissionais de enfermagem. A ajuda não para de chegar e de todos os estados brasileiros. “Tem um carregamento de alimento previsto pra domingo ou segunda-feira, que eles vão doar para a equipe de enfermagem”, diz.
Como ajudar
Doando água, leite, kits de higiene pessoal, materiais de limpeza, alimentos não perecíveis, de preferência aqueles fáceis de preparar e que não precisem de água para isso, e ração para os animais.
Você pode fazer sua doação diretamente na PUC Goiás, que montou postos de coleta nas secretarias de todas as Escolas. O material arrecadado será encaminhado para Brasília, de onde será levado por aviões da FAB para o Rio Grande do Sul.