Algumas habilidades parecem ser tão inerentes à nossa existência que é difícil imaginar viver alguma privação com relação a elas. Mastigar, engolir e usar a voz são habilidades que adquirimos ainda muito pequenos e dominamos, antes mesmo de caminhar. E se tudo correr bem, vamos usá-los até o último dia da nossa existência. Mas algumas pessoas recebem diagnósticos que podem afetá-las diretamente. E aí entra o profissional da Fonoaudiologia.
O câncer na região de Cabeça e Pescoço, normalmente, demanda tratamento cirúrgico, que pode alterar significativamente a fala e a mastigação. E depois de tratado o câncer, um profissional especial tem papel importante na vida destas pessoas. O fonoaudiólogo ou a fonoaudióloga reabilitam pacientes que passaram por cirurgias na boca, na língua, na bochecha, na tireoide e na laringe.
É uma área da saúde que ganha cada dia mais novidades e uma profissão que atrai pela possibilidade de integrar grandes equipes hospitalares atuando na reabilitação de pacientes de alta complexidade. O trabalho é buscar funcionalidade nas estruturas remanescentes e devolver ao paciente a habilidade de comer e de falar.
Esta é a área de atuação da fonoaudióloga Juliana Carla Gabriel Monteiro, no Hospital Araújo Jorge, em Goiânia, referência para atendimento de casos de câncer em toda a região Centro-Oeste e Norte do país. Formada pelaPUC Goiás, no final da década de 1990, logo no começo da carreira conseguiu uma oportunidade no serviço de Cabeça e Pescoço do hospital e desde então trabalha com a reabilitação destes pacientes.
“São 15 anos dedicados à oncologia e eu me realizo todos os dias”, conta ela. No seu consultório, pessoas recém-operadas chegam com perdas dolorosas, como a capacidade de engolir e/ou de falar. Ainda no leito do hospital, Juliana visita cada uma e anuncia que terminada a recuperação, ela se responsabilizará por tornar possível o máximo de autonomia a cada um.
O tipo de câncer mais comum nessa região é o carcinoma espinocelular, que demanda muitas vezes a retirada do sítio atingido. Na sequência, este paciente pode estar impossibilitado de sonorizar ou de mastigar. O trabalho de quem escolhe esta área é, como diz a própria Juliana, de “fada madrinha”. Ela recupera os pacientes oncológicos com o uso de técnicas que possibilitam que ele use outros recursos para falar ou engolir.
Opções e apoio
A reabilitação da sonorização pode ser feita de três formas: produção de som através do esôfago, laringe eletrônica ou prótese traqueoesofágica. O fonoaudiólogo é responsável por apresentar as opções e apoiar o paciente na escolha de um destes caminhos. No caso do esôfago, o paciente aprende a usar o ar do esôfago para sonorizar. Já a laringe eletrônica é ajustada ao pescoço e produz uma voz mais robotizada. A última opção faz a ligação da traqueia ao esôfago e permite um tempo maior de fala para o paciente, sem que precise puxar o ar novamente.
O atendimento é completamente pós-cirúrgico, explica Juliana, e começa após a cicatrização da cirurgia. “Todas as vezes que você reabilita um paciente, que você devolve, principalmente, a deglutição, é muito gratificante. Ele te abraça com o olhar e eu fico feliz em poder ajudar”. Na equipe, ela trabalha com profissionais médicos, enfermeiros, cirurgiões-dentistas e psicólogos. E sabe que cada um precisa do outro para o tratamento ser o melhor e mais integral possível.
O conhecimento da Psicologia, ainda durante o curso de Fonoaudiologia, tornou possível acolher e compreender os desafios dos pacientes. Além disso, ela mesma sofreu um câncer de tireoide e seu viu do outro lado da mesa, conhecendo os riscos e as possibilidades. “Eu sabia que não seria um problema. O estigma da morte ainda está relacionado ao câncer, mas estamos aqui para vencer isso”.
Sobre o curso
O curso de Fonoaudiologia possui uma gama de atuação, ligada à fala e à audição. O profissional pode se especializar em Linguagem, Audiologia, Motricidade Oral, Voz e Disfagia. No caso da Oncologia, ela está presente nas duas últimas áreas. Mas no total são 11 especialidades.
Na matriz nova, implementada a partir de 2019, o curso está dividido em oito módulos, que compõem três ciclos: Básico, Avaliação e diagnóstico e Reabilitação. Nos dois primeiros, os alunos também estão divididos nos ciclos da vida: crianças, adultos e idosos. No último, está focada a parte prática.
“O aluno que entra já contemplando matérias pertinentes às grandes áreas da Fonoaudiologia, com as metodologias ativas que permeiam toda a matriz curricular”, explica a coordenadora do curso, Maria Carolina Cabral de Lacerda. O aluno é desafiado a sair da zona de conforto com a apresentação de um caso clínico que é trabalhado por todos os professores de cada módulo.
O curso dispõe de laboratórios de audiologia e de voz, além de excelentes laboratórios para formação básica. A prática continua nos estágios, sempre supervisionados por um professor, em todas as áreas da fonoaudiologia. Na formação, o acadêmico de Fonoaudiologia poderá atuar na Clínica-Escola de Fonoaudiologia, no Centro de Referência em Saúde Auditiva (CRESA/PUC Goiás) que, em parceria com o Ministério da Saúde, realiza um serviço de atenção à saúde auditiva de média complexidade. Neste centro, são realizados vários exames audiológicos dos diversos distúrbios da audição.
O fonoaudiólogo trabalha em equipes multiprofissionais compostas por médicos, psicólogos, dentistas, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, educadores, entre outros profissionais. E ele pode atuar desde a atenção básica até em hospitais, passando por funções em corporações ligadas ao desempenho da fala, nas escolas e em serviços de homecare.
O acesso ao curso pode ser realizado via Processo Seletivo Geral ou Social, com bolsa de 50%. Nos dois processos, você pode realizar a prova ou utilizar as notas do Enem. A última edição do Exame também pode ser utilizada para se candidatar a uma vaga por meio do Prouni e garantir bolsa. Durante o curso, os alunos podem se dedicar à monitoria e à Iniciação Científica com ou sem incentivo de bolsa.
Este e outros 43 cursos de graduação fazem parte do Vestibular Geral. E é do seu jeito: faça prova ou use sua nota do Enem.