(Foto: Wagmar Alves)

Missão de acolher vidas: relatos de uma obstetra

Quando uma profissão é exercida com propósito, ela ultrapassa o plano da realização pessoal e transforma vidas. Para a obstetra e ginecologista, Mariana Lima, 28 anos, egressa do curso de Medicina da PUC Goiás, a experiência do parto, seja natural ou cesáreo, não é um ato mecânico, mas sim um ritual de acolhida a uma vida que está a caminho e merece ser tratada com amor, alegria, respeito e esperança. É um momento que traz um novo sentido à vida da mulher e da sua família.

A egressa, que traz uma experiência de atendimento humanizado às gestantes e puérperas, fez sua residência no Hospital e Maternidade Dona Íris, em Goiânia, local onde pôde ser testemunha de histórias que marcaram sua biografia como médica e como pessoa. Emocionada, ela se recorda do seu primeiro plantão na maternidade, quando atendeu uma jovem de 23 anos, que estava em trabalho de parto prematuro, grávida de 25 semanas e que fez um pedido enfático à então residente: “doutora, salva a vida da minha bebê. A gravidez não foi planejada, mas eu quero muito esta criança”.

Naquele momento, mesmo sem ter a certeza se o bebê, de fato, viveria, Mariana buscou na espiritualidade uma motivação para ser aplicada aos seus conhecimentos médicos e assim alcançarem seu objetivo. Como o fato aconteceu em uma Sexta-Feira da Paixão, a jovem lembrou a experiência do calvário de Jesus e mostrou à paciente que ela não estava sozinha. Juntas, iriam superar as dificuldades e vivenciar literalmente a ressurreição, em breve, com a chegada do bebê.

Após a oração, as contrações da paciente diminuíram, as batidas do coração estabilizaram e a gestação seguiu até 34 semanas, quando a bebê Manu nasceu saudável, apesar de prematura. Hoje a criança tem 3 anos e é o xodó da família, com quem Mariana até hoje tem contato!

Entre relatos de alegria, dores, dificuldades e superação, a médica realiza, também, um trabalho pioneiro em relação às perdas gestacionais. Nesses casos, ela adota a mesma postura de acolhimento às famílias e faz um ritual de despedida, quando é de vontade da mulher ver e despedir-se do bebê.

Apoiadas e amparadas em seu processo de luto, as pacientes são acolhidas e recebem uma certidão de amor eterno, documento que contém informações sobre a criança (peso, medidas, dia do nascimento, marca dos pezinhos) e representa uma prova concreta que a mãe pode mostrar às pessoas. Seu bebê existiu e cumpriu sua missão no mundo.

Em alguns casos, a criança é batizada com água, dentro do hospital, sendo acolhida na vida e na morte. Hoje essa experiência, cujas sementes foram lançadas pela egressa, é replicada por outras profissionais e, aos poucos, o assunto vem deixando de ser um tabu e ganha visibilidade nas pautas médicas e um novo sentido na vida das mulheres que vivenciam o luto pela perda dos seus filhos.

E como manter esse cuidado afetuoso com as pacientes em tempos de pandemia?! É um trabalho difícil, mas ela faz questão de mostrar às mulheres que por trás das máscaras e paramentos existe ali uma pessoa que vai fazer o possível para ver suas pacientes e filhos bem.

Atualmente, Mariana atua profissionalmente como ginecologista e obstetra em Brasília, entre plantões em hospitais e atendimentos em consultórios. Católica, com postura orante, ela sempre recorre às orações para vencer o cansaço, a rotina e todos os desafios que o momento pandêmico impõe aos profissionais da saúde.

Bem humorada, usando crocs e meias coloridas nos pés, ela sempre brinca e deixa um recado às gestantes na hora do parto

-Tem alguém atrás dessa roupa toda. Tem alguém que não vai te abandonar!

Em tempos tão desafiadores é sempre bom ter alguém com quem contar, não é mesmo? E Mariana é uma dessas médicas que não vieram a este mundo só de passagem. Seu maior sonho é implantar uma casa de parto e acolhida às gestantes e puérperas carentes, para que tenham um local onde repousar e receber orientações sobre os cuidados com recém-nascidos.

A egressa se graduou em Medicina em 2016, foi acadêmica do Fies e destaca a formação humanizada oferecida pela PUC. O curso é ministrado no método PBL, que coloca o estudante como protagonista do seu processo educativo. E essa qualificação faz a diferença na vida de profissionais como Mariana.

Desejamos que você concretize os seus objetivos, Mari! E que continue sendo testemunha de amor e esperança por onde você for!