Marlene Maria de Carvalho Salum, aos 88 anos, tem uma trajetória marcada por dedicação e pioneirismo. Vinda do Rio de Janeiro para Goiânia, viu nascer a Universidade Católica de Goiás (UCG), onde foi aluna, professora e a primeira diretora da então Escola de Enfermagem. Sua história começa na década de 1960, quando já casada e com dois filhos, Marcelo e Sandra, se viu com tempo livre e decidiu fazer o vestibular da então Escola de Enfermagem São Vicente de Paula, precursora da atual PUC Goiás. Aprovada, teve o apoio do seu marido, José Salum, já professor de Medicina na Universidade Federal de Goiás. Ele a incentivou a voltar a estudar, dando-lhe todo o suporte necessário para que concluísse sua formação.
A rotina exigia de Marlene energia e coragem. Todos os dias saía de casa com os filhos pequenos para deixa-los na escola antes de vir estudar. Quando terminava, buscava as crianças e depois de cuidar das obrigações de família é que podia estudar. Mas nada disso a esmoreceu. Cada dia mais encantada com a Enfermagem, se formou com mérito em 1962, na presença do marido, que entregou seu diploma, e dos filhos.
Já saiu da graduação para a docência. A Escola, que já funcionava na Praça Universitária, passou a integrar a recém-criada Universidade Católica de Goiás. Logo ela se destacou e assumiu a direção da escola. Foi um tempo de muitas dificuldades na transição da gestão e do modelo de funcionamento. Até então o curso usava os laboratórios da UFG para a formação das estudantes, mas depois da mudança, a cessão dos espaços foi suspensa e foi preciso instalar tudo na nova universidade.
O marido continuava como parceiro de vida e de trabalho de Marlene. Ajudou a criar o curso na então UCG. Aquele período marcou uma relação longeva que durou 35 anos. Mesmo com os desafios, Marlene se lembra da convivência com alunos e colegas e de uma fraternidade intensa. “Todos se ajudavam ao máximo, criando laços que perduraram por décadas”, conta ela.
A universidade ajudou Marlene a superar obstáculos duros, como a partida precoce do marido, há 43 anos. A viuvez e a criação dos filhos longe da própria família aprofundaram seu vínculo com Goiás e, hoje, mesmo depois dos herdeiros estarem morando fora e ela já ser avó, preferiu ficar em Goiânia. “Já sou goiana. Aqui tenho minhas principais memórias e amigos.” Marcelo é diplomata, e Sandra, jornalista. Ela se mantém ativa, dedicando-se a trabalhos manuais, ginástica e caminhadas. Após 35 anos de docência, ela deixou de lecionar há 8 anos.
Ainda sente saudades da sala de aula e dos contatos com os alunos, dos quais recorda com carinho a responsabilidade de formar profissionais e a relação próxima com todos. Embora os filhos morem longe, Marlene mantém vivas as amizades que cultivou ao longo dos anos, reafirmando que sua trajetória na educação e sua vida em Goiânia deixaram marcas profundas.
Ela é um exemplo de perseverança e compromisso com a educação, tendo sido testemunha e participante ativa na transformação de uma pequena escola que deu origem a uma das maiores universidades do Centro-Oeste e a um dos principais cursos da PUC Goiás, a Enfermagem.
Fotos: Wagmar Alves