Léo José, universidade, autismo e inclusão social

Com apenas 18 anos e uma postura tímida, Léo José é um adolescente de fala clara e olhar receptivo. Estudante do curso de Jornalismo da PUC Goiás, sua trajetória educacional, até ingressar na universidade, não foi fácil. Muitos nãos foram ouvidos, mas, com o apoio da mãe, Gilma Nogueira da Silva, ele e a família nunca se deixaram abater.

A vocação para o curso de Jornalismo nasceu quando ainda era criança, quando a literatura era sua companheira predileta. Esse gosto levou a pensar em cursar Letras para se tornar escritor, mas o que era uma possibilidade de carreira se transformou em hobby quando a decisão de cursar Jornalismo foi tomada.

No primeiro semestre do curso, ele já tem a disciplina favorita: Cultura. “Comecei a faculdade de Jornalismo na PUC Goiás esse semestre e a disciplina que eu mais gosto é ‘Cultura’, por ser mais abrangente”, informa. Léo vive a plenitude da vida universitária, inclusive seus desafios. Um deles é chegar pontualmente para aulas e não acumular atividades acadêmicas.

Comecei a faculdade de Jornalismo na PUC Goiás esse semestre e a disciplina que eu mais gosto é ‘Cultura’, por ser mais abrangente”

Cheio de projetos, Léo é ativo nas redes sociais e também socialmente. Ele participa da criação de uma ONG para jovens autistas, a Naja (Núcleo de Acolhimento ao Jovem Autista), que visa igualdade, respeito e inclusão e vai acolher jovens de Aparecida de Goiânia. Léo será o presidente da organização não governamental.

Mas seus projetos não param por aí. Há, ainda, dois podcasts o‘Eu ovo cast’ e o ‘Talk tea’ (chá de conversa), feito no formato do Instagram. Interessante notar que o nome faz alusão à palavra chá em inglês e à sigla do Transtorno do Espectro Autista ao mesmo tempo: “O lançamento do ‘Talk Tea’ ocorreu no dia 24 de abril, com entrevista com a deputada federal Adriana Accorsi”, comemora.

Léo desenvolveu um jogo de cartas chamado Master L. Point, há cerca de 3 anos, que pretende patentear: “Ainda está no projeto piloto e tem gente que acha parecido com o Uno. A minha intenção com esse jogo é proporcionar lazer para crianças que tenham até 7 anos”, explica.

A descoberta e os desafios

Mãe de Léo José, Gilma Nogueira da Silva lembra que Léo, quando criança, tinha comportamentos que nem sempre eram condizentes com sua idade. Ela notava que, em lugares públicos, enquanto as crianças corriam e se uniam, o Leonardo permanecia ao seu lado, desenhando e escrevendo. “Ele começou a escrever com 3 anos de idade, eu até pensei que fosse alguma superdotação, mas não interagia com as pessoas. Eu pensava que era por causa da criação, que eu o superprotegia, mas com 6 anos, depois de ampla avaliação com especialista, ele foi diagnosticado com Síndrome de Asperger, que se insere no TEA (Transtorno do Espectro Autista)”, explica.

Gilma conta que lidou desde muito cedo com a rejeição das escolas em virtude do diagnóstico de seu filho: “Apesar de o Leonardo sempre ter sido uma criança tranquila, as escolas buscam alunos com perfil competitivo e ele não tinha essa característica, o que foi extremamente frustrante, mas não me calou”, pontua.

Ela lembra que para ingressar no ensino superior não foi diferente, já que, antes de matriculá-lo na PUC Goiás e sentir-se acolhida pela formação humana da instituição, passou antes por outras três instituições, que quando tiveram conhecimento de que tratava-se de um aluno autista, lhes negou a oportunidade. “Já aqui na PUC Goiás, eu entrei no site, enviei um e-mail para a coordenadora do curso, expliquei sobre o Leonardo e a devolutiva foi positiva: a professora Sabrina afirmou que ele seria muito bem recebido na instituição, razão pela qual eu o matriculei de imediato”, conta, grata.

Gilma faz questão de mencionar um fato ocorrido no domingo anterior ao primeiro dia de aula. “Nesse dia, eu recebi uma mensagem da professora Sabrina afirmando que estaria, a partir das 9 horas do dia seguinte, aguardando o Leonardo na porta da sala de aula. Isso me deu uma tranquilidade imensa e eu tive a certeza de que o meu filho estava no lugar certo porque seria acolhido. Essa recepção, desde o início, fez toda a diferença para mim”, relata emocionada.

Para inserir-se no processo de adaptação do filho, Gilma conta que, durante o período de recesso, antes do início das aulas, ela esteve no Câmpus V com o Leonardo algumas vezes para que ele se familiarizasse com as dependências da faculdade, mas, ainda assim, quando as aulas começaram, o estudante enfrentou algumas dificuldades de mobilidade no Câmpus, especialmente para se situar nos blocos.

A mãe de Léo destaca também a importância da equipe de acessibilidade da PUC Goiás, que a procurou para saber mais sobre o perfil do estudante, necessidades e opinião sobre diversos temas relacionados à otimização do aprendizado.

Dona de uma sensatez ímpar, Gilma entende que há muitos desafios pela frente, inclusive com relação ao mercado de trabalho: “Eu vejo que o caminho do Leonardo é repleto de possibilidades e parte do reconhecimento a gente vê nos comentários das redes sociais dele, depoimentos no sentido de que há pessoas que afirmam que ele mudou a visão de mundo de outras pessoas”, cita.

Participação em eventos

Léo José foi um dos convidados para a inauguração de camarote exclusivo para pessoas com autismo e Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) no estádio do Goiás Esporte Clube. Inaugurado de forma pioneira no Centro-Oeste, no Dia Mundial de Conscientização do Autismo, 2 de abril, o camarote é em um ambiente físico especialmente construído em uma sala sensorial para atender às necessidades deste público, deixando-os confortáveis e seguros para assistir à partida.

Para Léo, a iniciativa deveria se espalhar pelo mundo todo. “Gostei muito de assistir ao jogo lá. Havia outros autistas também que pareciam estar bem confortáveis no experimento, mas eu não interagi com eles. O barulho lá dentro é bem reduzido, tanto que, quando eu saí de lá, eu assustei com a diferença”, explica.

A repercussão de sua participação no experimento foi tão positiva que o estudante viu suas redes sociais passarem por um verdadeiro ‘boom’: “Estou chegando a 40.000 seguidores. Não esperava tanta gente me seguindo”, afirma.

“Estou chegando a 40.000 seguidores. Não esperava tanta gente me seguindo”

Léo esclarece que sua intenção com as redes sociais é ajudar com informações: “Combater o preconceito e levar esclarecimento e inclusão. Aproximar as pessoas”, cita.

Para acompanhar a produção audiovisual do Léo, saber mais sobre sua vida e ficar por dentro de seus projetos, siga seu instagram: @jornalistaleojose.

(Texto: Marília de Paiva Siqueira, jornalista da Dicom)