Quando as histórias construídas no ambiente universitário envolvem a temática da inclusão, como a trajetória do estudante do curso de Educação Física da PUC Goiás, João Vitor de Paiva Bittencourt, elas são fonte de inspiração para transformações sociais.
O acadêmico de 22 anos chegou na universidade fazendo a diferença por ser quem é. Único estudante com Síndrome de Down matriculado na PUC Goiás, o jovem ganhou visibilidade nas redes sociais nas últimas semanas, após partilhar com seus seguidores sua rotina universitária.
No vídeo, João compartilhou informações sobre a agenda do dia, cheia de atividades acadêmicas: “oi, galera, estou aqui dando bom dia pra vocês, agora estou indo para a aula de metodologia, depois tenho aula de estágio e depois de epistemologia. Bom dia pra vocês, vou começar a aula agora na quadra, tá bom, galera?! Beijo”, registrou o estudante, enquanto caminhava pelo câmpus.
Até o fechamento desta publicação, a postagem tinha quase 547 mil visualizações e mais de 97 mil curtidas no perfil do estudante no Tik Tok (@jvdepaiva).
A história dele também pautou reportagens veiculadas nos principais telejornais do País, sensibilizando a população sobre a importância da inclusão dos estudantes com Síndrome de Down no espaço universitário e em todas as esferas da sociedade.
A fim de partilhar essa história com a comunidade acadêmica, a equipe da Divisão de Comunicação Social (Dicom) da PUC foi atrás do João Vitor para apurar mais detalhes da sua rotina no câmpus.
Com auxílio da mãe do estudante, Márcia, marcamos o dia e horário da entrevista, no Câmpus II (Jardim Mariliza), onde o acadêmico estuda.
Na data combinada, João e seu professor de apoio contratado pela família, Felipe Ungarelli, estavam a nossa espera para uma conversa, após uma aula da disciplina Educação Física e Aprendizagem Motora.
Depois da interação inicial, a primeira dúvida: como surgiu o interesse pelo curso de Educação Física?
Com olhar sereno e escuta atenta, o acadêmico disse que sempre gostou de atividades esportivas e como ele já tinha o hábito de frequentar academia e aulas de dança, esse hobby motivou a escolha pelo curso da PUC.
Aprovado em quatro vestibulares, dois em São Paulo e dois em Goiânia, foi nesta instituição que ele encontrou o caminho para edificar seu projeto de vida.
Apesar da agenda cheia, ele garante que consegue conciliar tudo pelo fato de ter o apoio de outras pessoas (família, amigos, namorada e profissionais que acompanham suas demandas).
“Eu fico até meio-dia nas aulas, é bem corrido, muito cansaço também, mas estou adaptando algumas matérias e estou trabalhando em equipe”, afirmou.
O estudante tem uma parceria sólida com o professor/mediador Felipe, que acompanha João Vitor em todas as aulas do dia, auxiliando suas demandas de aprendizagem. A sintonia dos dois é tão afiada, que vez ou outra brincam e fazem piadas entre si.
Satisfeito com o desempenho do acadêmico, o professor de apoio declara o quão gratificante é a experiência de acompanhar a jornada do João. Para ele, é uma desconstrução diária sair da zona de conforto, ver o mundo a partir do olhar do jovem estudante e compreender que o tempo de um não é o tempo do outro.
Com mais da metade da graduação concluída, João Vitor iniciou, neste semestre, o estágio da disciplina de aprendizagem motora e tem a oportunidade de colocar os seus conhecimentos em prática, planejando aulas para as crianças que frequentam a Escolinha de Iniciação Esportiva no Câmpus II.
Dedicado, ele explica como a disciplina tem ajudado na sua qualificação acadêmica: “estou aprendendo a coordenação motora das crianças, saber trabalhar com elas, ter mais dinâmica, trabalhar habilidades. Estou realizando um sonho”, disse.
De olho no futuro e nos planos profissionais, o jovem informa que seu sonho é abrir a própria academia, trabalhar com crianças, idosos, e, claro, ter uma boa colocação no mercado de trabalho.
Mesmo com a agenda cheia, João Vitor dedica um tempo para construir relações interpessoais na universidade. Ao falar do seu lugar predileto, ele é categórico: a lanchonete.
E quanto significado traz consigo essa resposta, afinal o centro de convivência alimenta o corpo e a alma. São nos intervalos, entre um lanche e outro, que as conversas informais surgem e os encontros acontecem.
Como todo estudante, também tem uma disciplina predileta, além do estágio que está praticando atualmente: ele é craque na Natação e gosta da forma como o docente da disciplina, Marcelo, transmite a didática e interage com os estudantes.
Muito mais do que frequentar a universidade, João Vitor é um protagonista do seu processo de ensino-aprendizagem e, certamente, inspirará muitos outros estudantes a assumirem o fio condutor das suas narrativas de vida.
Sua experiência abre caminhos para que a sociedade evolua em todas as suas esferas, rompendo as barreiras do preconceito e construindo um caminho sólido para o respeito e acolhimento às diferenças.
Convivendo bem com as limitações, o futuro bacharel em Educação Física transforma desafios em oportunidades e vai atrás dos próprios sonhos, com doçura e coragem, transformando-os em realidade.