Com uma carreira consolidada em Jornalismo ao longo de 23 anos, a fotógrafa Ana Paula Abrão, aos 44 anos, encontrou na cozinha não apenas um refúgio, mas um espaço para exercer sua criatividade e afeto. Mesmo tendo trilhado caminhos na comunicação, a paixão pela culinária sempre esteve presente. Ana Paula compartilha que sua avó, com quem morou por muito tempo, foi uma influência significativa: “Ela vivia cozinhando, e eu gostava de observá-la transformando alimento em afeto. Depois sempre mexia com alguma coisinha ou outra, inventava comidas, fazia para a família, os amigos.”
O que a jovem Ana Paula não previa é que, na idade adulta, suas panelas ganhariam um novo significado, levando-a a uma cozinha premiada com uma estrela Michelin. Funcionária da PUC Goiás há 11 anos, em 2018, ela começou a fazer doces para vender na própria universidade no contraturno, buscando complementar a renda familiar e ocupar o tempo livre. O que era inicialmente um hobby a motivou a buscar cursos profissionalizantes, e a possibilidade de bolsa oferecida aos funcionários da universidade despertou nela a chance de retornar ao ambiente acadêmico, desta vez como estudante de Gastronomia.
A cada pauta no curso, Ana Paula nutria sua admiração pelo laboratório, espaço e produção, mesmo sem conseguir visualizar como conciliar isso com sua rotina. Entretanto, em 2023, após a pandemia da Covid-19, ela decidiu ingressar nas aulas de Gastronomia. Com apoio da família e colegas da Divisão de Comunicação, onde trabalha, Ana Paula tornou-se a aluna mais experiente da graduação. “Digamos que as coisas mudaram muito, um hiato de diferença, estou estudando com uma geração bem diferente, que tem outra cabeça. Eu entrei com o propósito de tentar fazer o melhor no que eu não fiz na minha primeira graduação”, relata.
Mesmo dividindo-se entre trabalho, afazeres domésticos e a produção de doces, Ana Paula organizou estágios durante as férias, buscando concretizar o sonho de empreender na confeitaria. No ano passado, estagiou na Sablé Patisserie, em Goiânia, adquirindo conhecimentos sobre dinâmica de trabalho, equipe e organização empresarial. Nas férias de final de ano, decidiu ir além, programando uma viagem em família para São Paulo, a capital gastronômica do Brasil. Após bater em diversas portas e buscar ajuda de professores e colegas, foi um contato despretensioso pelo Instagram que abriu portas. Ana Paula enviou uma mensagem para o restaurante Mocotó, comandado pelo chef Rodrigo Oliveira, detentor de uma Estrela Michelin e presença na lista do 50th Best Latin América da revista inglesa The Restaurant Magazine. Surpreendentemente, recebeu uma resposta no dia seguinte.
Conhecendo o chef Rodrigo por programas de TV e eventos gastronômicos, Ana Paula jamais imaginou que passaria dez dias na cozinha do renomado restaurante. A experiência superou suas expectativas, destacando a simplicidade e acolhimento do ambiente. Além do aprendizado técnico, Ana Paula absorveu os valores que fundamentam o Mocotó, envolvido em projetos sociais como a Cozinha da Quebrada, que distribui refeições para a população vulnerável desde a pandemia. Admirou também a horta e o espaço de estudo aberto a todos.
“O que me encantou no Mocotó é que lá a gente circula livremente em todos os espaços, não existe hierarquia, não precisa se curvar, as pessoas são muito acolhedoras e pacientes. Todo mundo me acolheu com muito carinho”, conta ela, que espera tirar desse exemplo o cuidado que espera ter no próprio negócio. Ela teve experiência em duas áreas: a finalização e a sobremesa. E apesar do volume de trabalho, afirma que ver a comunidade e as pessoas unidas no negócio, a deixou feliz em ver como é possível ter um ambiente saudável e de sucesso. O retorno a Goiânia marca o início do terceiro período do curso para Ana Paula, que planeja concluí-lo até o final do ano. Seu foco está em buscar equilíbrio entre produção e coração, inspirada pela experiência enriquecedora no Mocotó.
