Projeto de pesquisa investiga a estruturação de Goiânia a partir de um novo viés

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A investigação técnica, científica e cultural a serviço da comunidade é responsável por guiar os programas de pesquisa da PUC Goiás, vertente da continuidade formativa dos seus estudantes.

Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela universidade, e docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial, a professora Sandra Pantaleão sempre levantou questões acerca do desenvolvimento e comportamento das cidades ao longo da sua formação, motivando-a estudar questões que envolvem o ordenamento urbano.

‌Em seu projeto, iniciado em 2019 com a participação de alunos de iniciação científica e mestrado, Sandra visa entender como ocorreu o crescimento da cidade de Goiânia desde o lançamento da sua pedra fundamental, em 1933, até os dias atuais.

Com o enfoque voltado para o desenvolvimento dos bairros através da elaboração de um mosaico urbanístico, os estudos visam constatar o alcance regional e a articulação das ocupações territoriais.

‌“Nós abrimos a pesquisa justamente para trabalhar com essa relação entre a paisagem, o território e a história. Buscando entender especificamente como a origem de Goiânia pode ser contada pelos bairros. São 10 bairros investigados, dentre aqueles inseridos no centro expandido da cidade, de acordo com a prefeitura. São eles: Setor Universitário, Setor Central, Setor Sul, Setor Oeste, Setor Marista, Setor Bueno, Setor Pedro Ludovico, Vila Nova, Jardim América e Setor Coimbra”, explica.

‌Segundo dados do IBGE, Goiânia superou a marca de 1,4 milhão de pessoas em último levantamento, demonstrando um intenso escalonamento demográfico desde a sua construção.

Planejada para abastecer 50 mil habitantes, a capital goiana chega aos seus 90 anos em outubro, data para celebrar e levantar debates sobre seus aspectos viários, habitacionais e de abastecimento ao longo de toda a metrópole.

Metodologia

‌O mosaico urbanístico traçado pela professora fragmentou os bairros estudados, separando-os em dois eixos norteadores: Norte-Sul e Leste-Oeste. O último coordenado através dos setores que cortam a Avenida Anhanguera, fio condutor para a expansão da zona em destaque. Cada aspecto paisagístico das regiões foi estabelecido diante a influência política e de loteamento durante a elaboração de Goiânia.

‌“Os alunos de iniciação científica e do mestrado estudam os bairros especificamente. Então a gente subdivide para que cada um possa fazer esses estudos. Pela iniciação científica ter a duração de um ano, o aluno faz o levantamento e, em seguida, realiza essa compreensão de como o bairro influenciou em parte da estruturação urbana”, pontua.

Ela também conclui: “por fim, nós realizamos essa leitura social. Eu considero importante entender não somente a parte projetiva ou morfológica, mas também a dinâmica socioespacial, que às vezes reforça muito alguns problemas de infraestrutura que a cidade enfrenta atualmente, onde a origem está exatamente nesse déficit. São essas relações de planejamento junto à história que nos ajuda a entender algumas questões da cidade”, relata.

‌A análise de fontes documentais pautadas pela influência legislativa do Decreto – Lei N° 574 (1947), e os Planos de Desenvolvimento Integrado de Goiânia (1969) e (1994), relatou uma mutação no DNA da cidade devido a intensa ampliação geográfica, considerando as ocupações não planejadas, os bairros aprovados e lotes parcelados durante as décadas de 50, 60, 70 e 90.

‌Para elaborar todos os aspectos da pesquisa, foram sondados dados cartográficos da cidade, aerofotogrametrias e o fomento de discussões teóricas para a elaboração do referencial teórico.

‌“Eu sempre brinco com os alunos: cada vez que vocês pesquisam, a gente vai achando mais coisas para buscar. A pesquisa parece que é sempre um caminho que nós não temos a clareza de onde chegaremos, mas que tem nos permitido entender essa relação. Então quer dizer: quais documentos oficiais eu tenho? E alguns são do Estado, outros da prefeitura. Esse levantamento mais físico é o próprio desenho de cada um dos bairros, junto com essa percepção da distribuição da população no território. Eu diria que é um trabalho amplo, mas que tem dado bons resultados”, comenta.

Resultados

‌Foi possível constatar que a capital goiana apresenta um tecido urbanístico heterogêneo, apresentado por uma diversidade em sua paisagem, determinada pela variância das classes econômicas e dos espaços por habitante. Uma cidade que nasceu diante de soluções urbanísticas inovadoras, precisou se reconfigurar através da ampliação do perímetro regional, e o desenvolvimento de “Arquipélagos Urbanos”, formados por bairros periféricos.

‌As relações entre o sujeito e o espaço é o foco do debate propiciado pela pesquisa, compreendendo a forma urbana de Goiânia enquanto processo dinâmico influenciado pelos atores; sejam eles: públicos ou privados.

‌A revisitação histórica permitiu que fossem elaborados mapas capazes de ilustrar essas transformações, partindo pelo adensamento territorial ao longo dos anos; a dispersão de bairros e a configuração de novos centros; além das paisagens que caracterizam a disposição social nos ambientes.

‌Sandra ainda externou a vontade de recuperar, sistematizar e digitalizar fontes de informação primárias, visando retratar a historiografia urbana de Goiânia.

‌“Durante a pandemia nós tivemos contato com uma rede de pesquisa chamada de Cronologia do Pensamento Urbanístico. Eles têm a intenção de atualizar essa pesquisa, mas tem poucas fontes sobre a ocupação do Centro-Oeste. Então acaba que ao entrar nessa rede de pesquisa a gente percebeu a necessidade de mergulhar nos documentos históricos, porque quando você busca fazer uma pesquisa sobre a cidade a maioria dos relatos é sobre a sua origem: que foi uma cidade planejada; que ela tinha uma série de contribuições ou influências de um pensamento de uma determinada época, mas uma lacuna muito grande da década de 30 e 40, principalmente 50 e 60, que é o período onde o Estado transfere para a prefeitura a responsabilidade de fazer a gestão das políticas urbanas da cidade”.

‌Essa carência foi o que a motivou a tentar restituir documentos da época: “Nossa intenção é digitalizar e ter um banco de dados que seja público para caso você precise, o acesso ao banco de dados seja possível. Porque a gente teve a oportunidade de adquirir esses materiais para fazer o escaneamento de grandes impressões, mas ainda não tivemos o acesso a todos os acervos que trazem a história da cidade, algo que nós também estamos tentando fechar”.

‌O projeto segue em produção com o intuito de ampliar os olhos de pesquisadores, estudantes, curiosos e entusiastas sobre as origens, realidade e projeções para uma cidade nova, plural e em contínuo progresso.

Visando fomentar a inovação do trabalho, através da criação do site responsável por hospedar documentos primários, será possível apresentar a cartografia da cidade desenvolvida pelos estudantes envolvidos na pesquisa.

Currículo

‌Sandra Catharinne Pantaleão Resende é doutora em Arquitetura e Urbanismo pelo Programa de Pós-graduação da Universidade de Brasília (UNB). Mestre em Geografia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC Goiás). É docente do curso de Arquitetura e Urbanismo (PUC Goiás), do Programa de Pós-Graduação em História e pesquisadora atuante no Programa de Desenvolvimento e Planejamento Territorial.

Sobre o Programa

‌O Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial surgiu em 2006 com o objetivo de instigar a reflexão sobre o desenvolvimento e o planejamento territorial, em especial da região Centro – Oeste, como objeto central de estudo, por se tratar de um território que apresenta uma multiplicidade cultural, econômica, política e social de grande relevância nacional.

‌O Mestrado é resultado de um processo de construção interna que envolveu professores doutores com habilidade em Economia, História, Geografia, Sociologia, Arquitetura e Urbanismo. Também contou com a participação de docentes de Direito, voltados para a questão urbana, assim como das Engenharias.

‌No quadriênio (2017-2020), o Programa recebeu nota 4 na avaliação feita pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

(Texto: Juliano Cavalcante, estagiário da Dicom/ Fotos: Weslley Cruz )