A pesquisa científica, motivada por um propósito, ultrapassa fronteiras e transforma a sociedade. Investigar a publicidade como ferramenta de inclusão das pessoas com deficiência trouxe o título de mestra para a ex-aluna do curso de Publicidade e Propaganda da PUC Goiás, Lorrayne Caroline dos Santos, 28, e a oportunidade de fazer o doutorado na Universidade de Toulon, França.
E relembrar o início dessa trajetória profissional conecta a mulher bem-sucedida com a menina de origem simples, filha de empregada doméstica, que um dia sonhava em estudar fora do Brasil.
O visual europeu, sugerindo a imersão da jovem brasileira na cultura parisiense, ganha um ar regional quando ela comenta sobre as raízes que lhe deram a força necessária para alçar voos: “eu sou da Cidade do Doce”, declara a egressa, sorrindo.
Ao falar da sua terra natal, Nerópolis (GO), com pertença e afeto, ela faz um retorno ao passado e encontra dentro de si a graduanda do curso de Publicidade e Propaganda da PUC Goiás, que acordava de madrugada para pegar o ônibus da Prefeitura Municipal e vir à universidade.
Estudante oriunda da rede pública, Lorrayne ingressou na instituição como bolsista da OVG. Como o benefício era parcial, ela encarava uma jornada dupla de estudos e trabalho para arcar com a outra parte da mensalidade.
Assim ela investiu no seu curso de graduação, com o apoio e a torcida da sua mãe, Ana Carolina, com quem dividia a responsabilidade pela captação de renda dedicada aos estudos.
A pesquisa como caminho
O contato com a profissão ocorreu por meio do estágio, quando teve a oportunidade de trabalhar em duas agências de publicidade, em Goiânia, e depois, na Prefeitura de Nerópolis. E esse contato com o mundo do trabalho, além de ter possibilitado a articulação entre teoria e prática, incentivou sua permanência no ensino.
Na PUC Goiás, a bolsista encontrou um leque de possibilidades para concretizar seus sonhos. Por aqui, ela teve uma vivência para além da sala de aula, conheceu as áreas de atuação do(a) profissional de Publicidade e Propaganda e descobriu que a pesquisa pode ser um nicho de trabalho e um caminho para mudar a sociedade.
O contato com a extensão também trouxe um diferencial para seu currículo. Ela foi voluntária do Programa de Direitos Humanos (PDH) da universidade durante seis meses e essa experiência a instigou para uma leitura sensível da realidade, com foco no ser humano de maneira integral.
Concluída a graduação (2015), ela começou a trabalhar na Apae Goiânia e foi no contato cotidiano com as pessoas com deficiência sensorial, que ela descobriu o seu propósito na vida.
Curiosa e com faro científico, ela queria buscar uma forma eficaz de diálogo com esse público, além de atender às suas demandas e expectativas de consumo.
“Eu queria entender como a comunicação consegue vender um produto e, além de ser mercadológica, também poderia ter um viés social de inclusão. Ela pode mudar o mundo”, reflete.
Essa questão virou objeto de pesquisa e sempre em busca de respostas para seus questionamentos, Lorrayne deu continuidade aos estudos com uma especialização em Assessoria de Comunicação e Marketing pela UFG (2017) e o Mestrado em Comunicação, na linha de Mídia e Cidadania, pela mesma universidade (2018-20).
Com o título de mestra, o próximo objetivo foi sair do Brasil para fazer o doutorado. E para concretizar o sonho, ela encarou outra saga com coragem e dedicação. Convicta dos seu objetivos, ela embarcou para sua primeira experiência internacional, há dois anos.
Sem medo dos desafios, ela precisava contornar outro obstáculo: apesar do inglês intermediário, ela não falava o francês. Disposta a aprender o idioma e integrar-se a uma nova cultura, Lorrayne fez curso na Aliança Francesa e por meio do contato com a população local, encontrou uma oportunidade para trabalhar como cuidadora de crianças em uma casa de família.
Assim, a vida lhe dava um suporte financeiro para permanecer em Paris, terminar os estudos na língua francesa e, posteriormente, ingressar no doutorado, em 2021.
Pesquisa financiada
Atualmente doutoranda da Universidade de Toulon, ela pesquisa sobre os processos comunicacionais das associações brasileiras e francesas na promoção da inclusão das pessoas com deficiência.
Imersa na pesquisa, ao entrar em contato com a APAE Brasil a fim de apurar informações para a sua tese, ela recebe outra notícia que coroa toda sua trajetória até aqui.
Ao notar o alcance e a relevância do trabalho científico de Lorrayane, a Associação se ofereceu para financiar o projeto de pesquisa e, como devolutiva, a jovem pesquisadora foi convidada para assumir o posto de consultora da Apae Brasil.
Dessa forma, além de receber financiamento para sua pesquisa, ela conquistou um cargo de liderança na instituição e hoje é uma profissional de referência para as milhares de Associações espalhadas pelo Brasil.
“ A ideia é mudar a marca, construir toda uma estrutura comunicacional e criar estratégias que permitam a inclusão da pessoa com deficiência. São mais de 2.100 unidades pelo Brasil e eles querem estruturar uma comunicação que dialogue com os funcionários e promova a inclusão social”, explica Lorrayne.
Até o momento desta entrevista, a egressa tinha visitas agendadas no DF e em São Paulo, antes de retornar à França, para conhecer as associações e fazer todo esse trabalho estratégico de articulação descrito por ela.
E as novidades não param por aí: ela também conseguiu uma bolsa institucional da Universidade de Toulon, voltada para doutorandos estrangeiros residentes na França, e está de mudança para o sul da País, onde vai participar da etapa laboratorial da pesquisa.
Com um sorriso que emana da alma, de quem sabe da onde veio e aonde chegou, Lorrayne quer ajudar mais pessoas a conquistarem seus sonhos.
Resultados
Colhendo os frutos pelo seu esforço, a ida à França ainda possibilitou um convênio de cooperação internacional entre os programas de pós-graduação em Comunicação da Universidade de Toulon e da UFG, destinado à promoção do intercâmbio e ao desenvolvimento de pesquisas em conjunto.
Com seu testemunho, Lorrayne quer deixar um legado para seus filhos e netos: a educação ultrapassa fronteiras e tem o poder de modificar a realidade socioeconômica. Entusiasta da pesquisa, ela prova que a ciência tem uma missão social e pode mudar a vida de muita gente.
Oportunidades na PUC
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